sábado, 30 de abril de 2011

Escola Pública - Território de conflitos - parte 2

No outro artigo dessa série falei um pouco dos conflitos gerados pelo próprio engessamento do sistema que praticamente obriga o professor a fazer as trapalhadas que algum burrocrata de gabinete imagina que serão "grandes soluções para a Educação paulista". Fiquei devendo um outro artigo falando dos conflitos gerados internamente, entre alunos e professores ou entre alunos e alunos. Então esse é o tema desse artigo.

Primeiro é preciso entender que os conflitos entre alunos e professores não surgiram apenas nos últimos anos, eles são "eternos". Esses conflitos advém de muitas motivações, internas e externas à escola, mas acabam explodindo dentro das salas de aula ou nos corredores da escola.

Quase sempre os conflitos entre professores e alunos se escondem sobre o tema "disciplina". Entende-se que o professor deseje uma sala de aula com alunos calados, enfileirados, educados e atenciosos. Mas não é bem assim. Os professores são bastante tolerantes com pequenos desvios de conduta, não exigem que seus alunos permaneçam sempre enfileirados e, muito menos, que fiquem calados o tempo todo. De certa forma, quem imagina um professor "linha dura", do tipo descrito acima, provavelmente não conhece nenhuma escola real e só ouviu falar delas nos livros, quando muito.

A questão da disciplina envolve outros aspectos, além da produtividade específica do trabalho pedagógico que o professor desenvolve. A disciplina envolve também o ensino de "valores", mas isso quase ninguém vê quando está fora da sala de aula.

Há sim momentos em que o professor precisa que os alunos fiquem calados e o ouçam, e os alunos precisam aprender a respeitar esses momentos. Há limites para as brincadeiras que os alunos podem fazer em sala de aula, há regras de conduta social para com os colegas e para com os professores. Enfim, a escola não é uma terra de bárbaros onde hordas podem digladiar-se à revelia de qualquer ordenamento social.

Compreender isso já não é fácil para muitos professores que, eles mesmos, foram alunos indisciplinados. Estabelecer normas e compromissos com adolescentes que não aprenderam isso em suas casas, durante sua infância toda, e que também não aprenderam nos primeiros anos da escola, é uma tarefa hercúlea para o professor que não quer abrir mão de oferecer um ensino de qualidade. Mas é possível e, acima de tudo, necessário que seja feito.

Tivemos uma grande batalha no primeiro bimestre, entre professores compromissados e alunos "sem noção". A direção da escola escolheu o rumo certo, já há algum tempo, e tem dado suporte a ações que visam criar um ambiente agradável de convívio. E é disso mesmo, um ambiente agradável, saudável e produtivo, para o convívio e o trabalho coletivo, que estamos falando quando falamos em "conflitos entre professores e alunos e entre alunos e alunos".

A barbárie não pode prevalecer. O professor não pode abrir mão de seu compromisso legal, ético e moral com a formação integral de seus alunos, e a direção da escola não pode se omitir de seu trabalho, também pedagógico, para se esconder atrás da montanha de papéis que é obrigada a preencher todos os dias.

Após quase três meses de convívio, a maioria dos nossos novos alunos já está integrada à escola, enturmada com os novos amigos e ciente dos limites e responsabilidades que têm. Sempre restarão alguns que precisarão de um tempo maior para se tornarem socialmente ajustados, mas temos paciência e perseverança para lidar com eles.

O que sinto falta na escola (em todas elas) é de um programa sério de capacitação de professores e gestores para a gestão de conflitos e de pessoas. Professores que administram bem os conflitos (inevitáveis) com seus alunos, vivem mais e melhor, e muitas vezes conseguem ser felizes. Na contramão, há muita gente que não tem habilidades suficientes para lidar com os conflitos e acabam sendo, eles mesmos, geradores de conflitos. Nesse sentido a escola pública ainda é muito pobre.