sexta-feira, 26 de junho de 2009

Porque as coisas podem vir a funcionar

No último post talvez eu tenha deixado a falsa impressão de que, já que as coisas não funcionam sempre na escola como deveriam, então devemos nos conformar com isso. Bom, não é nada disso e, para deixar isso bem claro hoje vou falar sobre "Porque as coisas podem vir a funcionar".

Depois de mais de uma década, recebemos, enfim, novos computadores e, substituímos assim as velhas carroças por máquinas mais potentes. A foto abaixo mostra alunos usando as novas máquinas na Sala de Informática. Alguns estavam lá fazendo as minhas tarefas (no contraturno, isto é, à tarde), outros fazendo outra coisa, mas todos bem tranquilos e sem ninguém para cuidar deles. E essa situação só foi possível porque há vários anos conseguimos reabrir a Sala de Informática e colocar as tralhas velhas para funcionar. Agora nossos alunos já têm condições e autonomia para cuidarem eles mesmos da Sala de Informática e dos computadores novos.










Enquanto isso... Na sala ao lado, que serve como laboratório de ciências e "Sala de Reuniões" (pois é, e também serve de depósito de porcarias diversas de vez em quando), três alunas apresentavam para o corpo docente, em horário de HTPC, a palestra que dariam para os alunos da escola toda sobre Meio Ambiente, Reciclagem e Consumo Consciente. Uma palestra muito boa, diga-se de passagem, e que faz parte de um projeto desenvolvido multidisciplinarmente na escola. Um viva à professora de Artes que está encabeçando o projeto!










Observem que as alunas estão usando um notebook (da escola) e um datashow (da escola) e que o fazem com desenvoltura, pois há dois anos já vêm fazendo isso de forma relativamente regular em várias disciplinas. Elas poderiam estar apresentando essa palestra em qualquer lugar (em uma empresa, em um congresso ou em praça pública, pois elas o fizeram muito bem).

Observe também que alguns professores estão com seus notebooks (talvez estejam consultando o Orkut, ou batendo papo no MSN durante a palestra) e isso também ocorre cada vez mais frequentemente na sala de aula. Conseguimos implantar um sistema wireless na escola toda com recursos próprios e um pouco de criatividade e agora podemos usar nossos notebooks (comprados com nosso dinheiro próprio) e os dois datashows da escola diretamente nas salas de aula usando a Internet!

Enfim, convivemos entre o último círculo do inferno de Dante e o colo macio das Valkirias de Odin, sobre uma corda banda em que podemos pender para qualquer lado e nunca temos muita certeza sobre para qual lado estamos pendendo. Mas sobre algo podemos sim ter certeza: as opções existem!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Porque as coisas não funcionam

Entre 19/05 e 17/06 estive afastado da escola. Retornei na quinta-feira, 18/06, para as quatro aulas matinais.

Algumas coisas são muito óbvias, mas é sempre bom enfatizá-las porque, de tão óbvias, por vezes nos passam desapercebidas:
  1. Somos bem menos importantes do que imaginamos ser. Fiquei um mês longe da escola onde tenho investido grande parte do meu tempo em caráter praticamente de "doação" e com o intuito de torná-la cada dia melhor. É fato que tenho contribuído muito para a melhoria da escola, porém, ao que parece, não fiz nenhuma falta. :)
  2. As pessoas não se importam muito umas com as outras. Não apenas não tive saudades dos meus alunos e colegas como eles também não tiveram nenhuma saudade de mim. E quem disse que deveríamos ter? A escola continua sendo um ambiente impessoal, uma instituição fria, um lugar onde se vai matar o tempo ou ganhar um salário ruim. Tanto faz.
  3. Ninguém se importa em como o trabalho é feito. Meus substitutos trabalharam pouco, renderam pouco, quase nada, e atrasaram ainda mais o já atrasado cronograma de Física. Mas ninguém se importou com isso, muito menos os alunos. E advinha só o que os meus alunos queriam no meu retorno: revisão! Sim, isso mesmo, revisão de coisa nenhuma.
Em um dos terceiros colegiais um professor contou aos alunos, durante essas minhas "férias", que eu era especialista em vestibulares. É verdade, sou mesmo. Uma aluna lembrou disso na quinta-feira, mas ela queria saber se eu os ensinaria a "chutar" para melhorar o rendimento no ENEM. Bom, eu também sei ensinar isso, mas porque será que ninguém quer aprender a aprender? Será que acreditam que vão chutar a vida a vida toda? Será que ninguém teme levar um belo chute da vida?

Em uma outra classe de terceiro ano do noturno tivemos uma "falta coletiva". Isso mesmo, todos os alunos da classe (e de outras também) resolveram faltar da escola na sexta-feira. As boas razões são muitas: é sexta-feira! Em contrapartida, minha sala do EJA estava cheia de adultos dispostos a aprenderem. Será que é uma questão de maturidade apenas? Devo esperar que os meus alunos do terceiro colegial regular retornem daqui há 30 anos para terem aulas de sexta-feira?

Descobri que os livrinhos dos alunos referente ao segundo bimestre (que começou em maio), aqueles que o governo estadual está distribuindo para melhorar a qualidade do ensino e que é visto como uma espécie de "apostila" pelos menos afortunados pedagogicamente, livrinhos esses que seriam um grande apoio aos alunos, oras vejam, chegaram na escola no final da semana passada e nem foram distribuídos ainda aos alunos! Devo distribuí-los e sugerir que façam o quê com eles? Hum, melhor não me dizerem.

A vida é divertida na escola pública. Parece um conto de fadas ao avesso. E viveram infelizes para sempre...

Bom, tem uma boa notícia pelo menos: na semana anterior eu recebi meu notebook que o governo financiou para mim em 24 parcelas sem juros (alguém acredita nisso quando as Casas Bahia faz a mesma propaganda?). Ao contrário de alguns colegas que receberam notebooks depredados (sem webcam) o meu veio aparentemente completo. Já comecei a levá-lo para comer pó de giz comigo nessa semana. Pelo menos agora já posso informatizar o resto da burocracia que ainda não estava informatizada (lista de chamada, conferência de tarefas, etc.) além do uso pedagógico com os alunos.

Semana que vem revejo os demais alunos, aplico provas (vai ser uma choradeira só), recolho e distribuo tarefas e tento avaliar o que aprenderam nesse tempo em que ficamos de férias recíprocas. Depois vem as férias e logo em seguida o ano já acabou. :)