domingo, 28 de março de 2010

Quando todos estão errados, alguém precisa fazer a coisa certa

Publiquei diretamente no meu site um artigo intitulado "Quando todos estão errados, alguém precisa fazer a coisa certa" discutindo a greve dos professores e a polêmica foto do professor carregando o soldado machucado durante a manifetação de 26/03/2010 nas imediações do Palácio do Bandeirantes. Também há outras imagens bastante simbólicas ao longo do artigo.

Convido à todos para a leitura e reflexão.

quarta-feira, 24 de março de 2010

E, enfim... Estamos em greve!

Parece que meu post de ontem "teve poderes místicos". Entramos em greve. :)

A partir de hoje, 24/03, e até que decidamos encerrar nossa greve ou voltarmos individualmente ao trabalho, para todos os efeitos, a quase totalidade do corpo docente da nossa escola decidiu aderir à greve conjuntamente. As razões podem ser individuais e as mais variadas, mas desconfio que uma boa parcela da motivação para entrar nessa greve deva ter sido dada pelo nosso amado Secretário da Educação, o Sr. Paulo Renato, e o conjunto de malvadezas que o governo Serra vem promovendo na educação paulista.

Desde o início da greve nosso secretário vem batendo nos grevistas em todas as entrevistas, insistindo que a greve não tem mais do que 1% de adesão e que está sendo motivada "apenas" por razões políticas (como já discuti no post anterior). Por razões didáticas talvez queiramos ensinar o nosso Secretário a contar usando números maiores do que "1". Que tal 50%, 60% ou mesmo 80%?

Além disso, e da "pauta de reivindicações" (deveras esdrúxula, devo concordar), parece que outras provocações ocorreram: como barrar, ainda na estrada, os ônibus dos professores que foram à São Paulo na última manifestação e intensificar uma campanha publicitária (que deve ter custado baratinho baratinho) mostrando todas as glórias obtidas na educação paulista, como se todos devêssemos estar contentes e satisfeitos; ou a proibição de que as escolas divulguem o número de grevistas para os jornais, ou a ameaça de "prejudicar o bônus" dos professores grevistas, etc., etc. Razões muitas ele tem dado (nem parece que é do mesmo partido que o Serra - mas não se iludam, ele é).

Ou talvez, ainda, tenha alguma relação com o fato de que as "supostas melhoras" apontadas no Saresp e divulgadas recentemente (e que foram, na verdade, ridículas) devam-se unicamente ao brilhantismo da Secretaria de Educação que, ao que parece, decidiu criar leis que proibem professores de ficarem doentes (e por isso agora eles não faltam mais ao serviço), "implantou um currículo" (como se não houvesse currículo  nas escolas paulistas nos 14 anos anteriores de governo do PSDB!!! Que vergonha...)  e distribuiu apostilinhas para "encinar" (sic sic sic!!!) os professores a darem aulas... E seguem-se ainda um número absurdo de outras barbaridades e malvadezas que não terei estômago para listar aqui.

Enfim, acho que nosso secretário acabou conseguindo o que queria (???) e irritou ainda mais os professores. Ou talvez o "gado" tenha percebido que tem força e está em maior número, e esteja enfim se insurgindo, sob os auspícios encorajadores de um ano eleitoral - mas ainda assim não deixa de ser uma boa notícia. De qualquer forma, estamos em greve também.

Como a imensa maioria dos professores da nossa escola aderiu à greve de uma única vez, hoje, e pelo resto da semana, pelo menos, não deveremos ter aulas, pois é impossível substituir a quase totalidade do corpo docente da escola por professores eventuais (que, aliás, são raros, ainda que não sejam caros). Além disso, os poucos professores que não puderam aderir à greve por razões pessoais e justificáveis, não deverão ter alunos, já que estes e seus familiares, na nossa escola, historicamente têm apoiado o corpo docente nesses movimentos reivindicatórios.

No meu site (Cantinho do Prof. JC) dou mais algumas informações específicas aos meus alunos sobre como proceder em relação às minhas aulas, mas aproveito para adiantar aqui que enquanto meus colegas da escola estiverem decididos a manterem essa greve, meu propósito e estar ao lado deles.

Tenho também a impressão de que o movimento grevista está ganhando força ao invés de perdê-la, e que todo escárnio com que os professores têm sido tratados está servindo como um bom fermento. Por isso creio que em muito breve a grande mídia (aquela que tem seus contratos milionários com o governo) acabará tendo que noticiar esse crescimento.

Por fim, embora eu continue duvidando que essa greve vá para além do dia 31/03 (quando o governador José Serra se descompatibilizará, entregando o governo para seu vice), eu gostaria muito de vê-la indo até o limite em que algumas das reivindicações (principalmente as salariais) fossem negociadas em bons termos. Ainda que sem muita esperança, vou ficar na torcida para que a facção pelega do sindicato não se ajoelhe antes da hora.

Aguardemos as novidades...

terça-feira, 23 de março de 2010

A greve e a escola paulista: uma redundância

Este é um comentário que deve gerar prós e contras (coisa rara nos meus blogs - excessivamente pasteurizados), mas eu não poderia deixar passar em branco esse momento histórico. Falo da greve do sindicato, da greve da escola e da greve do governo paulista.


A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) decretou greve em 08/03. Uma greve sobre a qual ninguém me consultou antes (e nem depois). Vai ver deve ser porque para o sindicato eu não tenho mesmo nenhuma importância como professor, ou porque deva existir muitos professores mais competentes no sidicado para decidirem por mim o meu destino sem prévia consulta. Aliás, também é isso que todos os governos fazem, não é? Depois de eleitos eles decidem os nossos destinos porque se dizem possuidores da "legitimação das urnas", tanto quanto os sindicalistas se dizem possuidores também de tais poderes. De qualquer maneira, não fui consultado.

Greve na Educação nunca surtiu muito resultado, nem mesmo nos tempos em que o sindicato era realmente representativo e tinha respaldo. Tanto isso é verdade que temos um governo que está em greve há quinze anos (esse é o tempo que os tucanos estão recebendo salários sem trabalhar, segundo a concepção tucana da ex-secretária de educação de São Paulo, Rose Neubauer, e do secretário atual, Paulo Renato, para quem é preciso valorizar o mérito - e que mérito há em um governo que há quinze anos só tem piorado a educação paulista?) e, apesar da greve do governo, as escolas continuam funcionando (bem mal, é verdade, mas funcionam).


A grande mídia, que assinou com o governo contratos gordos no ano passado (e anteriores), se um dia fez jornalismo, esqueceu-se como se fazia. Com exceção da publicação de "notas oficiais" e de "artigos de opinião" assinados por indivíduos cuja opinião costuma vir pautada por suas relações com o governo, raramente se deu ao trabalho de fazer um jornalismo investigativo sobre a situação da educação paulista. Então ficamos entre informações do tipo "Apeoesp diz que 63% dos professores estão em greve" e "Secretário da Educação diz que apenas 1%" dos professores estão em greve. Você escolhe se quer fazer uma média aritmética ou se arrisca seu próprio palpite.

No entanto, ainda que apenas 1% dos professores estivessem em greve, e que isso representasse apenas 1% dos alunos sendo prejudicados (algo na casa dos 50.000 alunos!), será que esse seria um "prejuízo menor" que o Secretário de Educação e o Governador poderiam simplesmente desprezar?

O governo tem o descaramento de sugerir que os professores, os alunos e a sociedade estão satisfeitos com as condições com as quais sobrevivem os professores e as escolas e que, portanto, essa é uma greve apenas política. Oras, toda greve é política e se "ser político" for assim tão mal, como o senhor Governador e o senhor Secretário se definiriam? Artistas talvez? Por outro lado o sindicato diz estar defendendo os interesses da categoria, mas de qual categoria ele fala? Na pauta de reinvindicações só faltou pedir máquina de café capuccino "free", como as que se encontra nos corredores da Secretaria de Educação, e eu não duvido nada que essa greve tem data certa para acabar: 31/03/2010 - quando o Serra se descompatibilizar oficialmente e deixar de responder pelo governo de São Paulo. E eu, que não tenho capucino free e nem faço paralizações na colônica de férias da Apeoesp é que sou obrigado a levar tijolada?

Aqui, na minha escola, até semana passada me parece que tínhamos 0% de grevistas. Mas há outras onde há realmente 100% de paralisação. Porque tanta diferença? Seríamos nós, daqui da minha escola, tucanos entreguistas, alienados, descompromissados e traidores da nossa "categoria"? E na escola 100% paralisada, teríamos lá uma concentração de petistas xiitas da CUT com especialização em terrorismo em Cuba? Se deixássemos isso para a mídia decidir ou para a presidenta da Apeoesp e o Secretário de Educação, resolverem, provavelmente essas seriam as conclusões.

A verdade é que me parece que as opiniões divergem muito quando se trata de posicionamento político e, principalmente, político-partidário. Não deixamos de entrar nessa greve, até agora, por razões político-partidárias e nem porque somos alienados, mas simplesmente porque não queremos servir apenas de massa de manobra, nem para o Secretário, nem para o Sindicato. Prezamos a categoria, lutamos por nossos direitos e respeitamos os nossos alunos (que são, verdadeiramente, os únicos que merecem nosso respeito). Não acreditamos em ambos, sindicato ou governador, e toda essa "descrença" é fruto de um longo aprendizado... E pelo menos para isso a escola nos serviu nesses anos decadentes de tucanato.

Semana passada recebemos o comando de greve local, que veio com um ônibus inteiro nos visitar.  Nos ofenderam um pouco, mas estamos acostumados e sabemos relevar. Continuamos sem explicações  minimamente convincentes e com a impressão de que "não temos reais motivos para aderir a ESSA greve". Mas é claro que podemos mudar de opinião e, na verdade, eu mesmo adoraria ter participado de várias greves que o sindicato deixou "passar em branco" (porque será?) na época em que elas fariam todo o sentido. Há bem pouco, tendendo a quase nada, do que foi feito por esse governo que mereça algum aplauso. E menos ainda que tenha sido feito pela Apeoesp.

Nesta semana talvez entremos em greve, talvez não. A decisão é nossa, não é do sindicato e nem do governador. Mas se entrarmos não será apenas para marcar um pontinho inútil para um sidicato que só enxerga o seu próprio umbigo político, e se não entrarmos não será porque achamos que o governo Serra (e seus antecessores tucanos) tenha merecido os seus salários. Na verdade seria muito bom poder nos livrar dos dois, sindicato e tucanos, e optar por uma terceira via... Mas aí somos sempre pisoteados nas urnas das eleições governamentais e das eleições sindicais.

De qualquer forma, quinta-feira sai o "bônus" dos professores. Desconfio que teremos então um motivo a mais para essa e outras greves. :)

sábado, 6 de março de 2010

Taylor, Ford, Fayol e os canudinhos divertidos

Nessa semana que está acabando tive que fazer um realinhamento de cronograma entre as minhas  turmas, pois começaram em semanas diferentes. Realinhar cronograma é fundamental para se poder trabalhar "fasado" e poder aplicar as teorias de Taylor, Ford e Fayol na Educação. Claro, eles não tem nada a ver com a educação, mas como tem muita gente mandando na educação que também parece nunca ter entrada em uma sala de aula "normal" para lecionar, nada mais justo do que citar esses grandes pensadores da era do capitalismo industrial no contexto da nossa escolinha.

Taylor, Ford e Fayol são ícones da fase industrial do capitalismo. Eles estudaram e produziram muitas inovações nos "métodos de produção" objetivando aumentar a produtividade das fábricas por meio da padronização, da mecanização e da especialização de tarefas. Essas coisas são completamente desconhecidas no âmbito da escola, especialmente a pública, onde tudo se faz pelo improviso, e nem são posições teóricas modernas, mas aplicam-se ao contexto escolar quando temos que trabalhar com várias turmas e com muitos alunos por turma.

Esquecendo um pouco as teorias da administração e passando rapidamente para a pedagogia do arroz-com-feijão, convenhamos, alunos adoram uma boa diversão! Esse foi o mote para as aulas iniciais sobre eletricidade. Brincamos com canundinhos!

Com um Kit Básico (ainda vou escrever um artigo sobre o "Kit básico do professor pobre da escola pública"!) contendo canudinhos plásticos de refrigerante e um rolo de toalhas de papel é possível explicar desde as orígens da eletriciade (âmbar, gregos.. lembra-se?) até conceitos complexos, como a dependência da força elétrica com o inverso do quadrado da distância entre as cargas, os campos elétricos e o princípio da indução eletrostática. Ufa! Um viva aos canudinhos!

Com um pequeno investimento no valor de uma hora-aula (sim, temos que tirar dinheirinho do bolso para trabalhar, mas já estamos acostumados... deixa prá lá, os políticos vão bem, obrigado) pode-se adquirir esse kit básico. Mas cuidado! É preciso escolher bem os canudinhos (eles têm que ser finos para funcionarem bem) e comprar um "pacotão", pois a intenção dessas aulas não é demonstrar alguns fenômenos elétricos e sim fazer com que o aluno vivencie esses fenômenos e, literalmente, sinta na pele o poder da força elétrica; razão pela qual cada aluno deve receber dois canudinhos e uma folha de papel toalha.

O procedimento é simples: atrita-se um canudinho com o papel toalha e pronto! (Ah, que pena, eu não vou poder dar uma oficina de uso de canudinhos agora). O canudinho eletrizado nos permitirá demonstrar uma infinidade de fenômenos elétricos e servirá de base para várias retomadas teóricas quando formos tratar dos diversos temas do currículo ao longo do ano. Algo realmente simples e muito poderoso.

O resultado é sempre o mesmo: alunos felizes se divertindo com os canudinhos, grudando-os nas paredes, puxando os cabelos dos colegas, fazendo várias experiências "inimagináveis" e despenjando um caminhão de perguntas do tipo: porque gruda em tudo? É como um ímã? Quanto tempo vai ficar grudado na parede? E por ai vai...

Isso é mais ou menos o sonho de todo teórico da pedagogia, não é? Quem não quer ter alunos envolvidos, fazendo experimentos por conta própria, elaborando perguntas, tentando explicações, etc.? 

Evidentemente eu gostaria muito de dispor também de um gerador de Van der Graff, mas se já tenho que abrir mão de 12,5% do meu salário (referente às aulas em que a atividade se dá) só para poder comprar canudinhos baratos e papel toalha vagabundo, imagine o rombo orçamentário que eu teria para adquirir um gerador desses? E nem pense em fazer um você mesmo porque isso demanda um tempão e nem sempre funciona lá muito bem quando é "feito em casa".

O fato é que os terceiros anos ficaram felizes e minha programação também, pois agora posso passar rapidamente pelos processos de eletrização, indo até o conceito de campo elétrico, tendo como parâmetro a própria experiência vivenciada pelos alunos.

Já o primeiro ano teve aulas mais teóricas, mas ganhou um filminho curto projetado com o datashow entremeio mapas conceituais. Eles não sabem ainda, mas logo logo vão ter uma sessão de desenho animado com o Papa-Léguas. :)

Enfim, é preciso fazer alguma mágica para ensinar alguma coisa para os alunos no tempo miseravelmente curto de que dispomos (Fala sério! Com duas aulas de física semanais + burocracia estúpida para preencher + feriados emendados pelo patrão + tempo de dedicação a problemas do aluno que não dizem respeito à disciplina + etc. + etc. + etc... Quem consegue tempo, eu disse TEMPO, para oferecer um pouquinho de conhecimento a mais para os coitados dos alunos? Tem professor que até fica nervoso quando o aluno faz perguntas porque ele, professor, sabe que não tem tempo e não sabe que o pouco tempo que tem é para justamente atender ao aluno e não apenas a um currículo falsificado). Deixa pra lá...

Semana que vem tem mais. Agora os terceiros anos vão ter que "aprender a usar o livro didático" (sim, temos que ensinar isso também) e terão algumas explicações teóricas baseadas na vivência da atividade que fizeram sobre os processos de eletrização, além de adquirirem a terminologia necessária para o resto das aulas. Talvez sobre tempo para dar um pulinho no nosso laboratório improvisado para conhecerem o multímetro. Quem sabe...

Já o primeiro ano vai passar por uma tortura horrível! Os pequeninos verão que na física é preciso fazer contas de adição, subtração, multiplicação e da temida "divisão que dá número quebrado" (sic sic sic - tô fora dos números quebrados!).

De resto a escolinha caminha bem. Alunos cada ano mais envolvidos e "pacíficos". Claro, tem sempre uns mais animadinhos, mas no funbdo são eles que tornam a vida mais interessante.