sábado, 6 de março de 2010

Taylor, Ford, Fayol e os canudinhos divertidos

Nessa semana que está acabando tive que fazer um realinhamento de cronograma entre as minhas  turmas, pois começaram em semanas diferentes. Realinhar cronograma é fundamental para se poder trabalhar "fasado" e poder aplicar as teorias de Taylor, Ford e Fayol na Educação. Claro, eles não tem nada a ver com a educação, mas como tem muita gente mandando na educação que também parece nunca ter entrada em uma sala de aula "normal" para lecionar, nada mais justo do que citar esses grandes pensadores da era do capitalismo industrial no contexto da nossa escolinha.

Taylor, Ford e Fayol são ícones da fase industrial do capitalismo. Eles estudaram e produziram muitas inovações nos "métodos de produção" objetivando aumentar a produtividade das fábricas por meio da padronização, da mecanização e da especialização de tarefas. Essas coisas são completamente desconhecidas no âmbito da escola, especialmente a pública, onde tudo se faz pelo improviso, e nem são posições teóricas modernas, mas aplicam-se ao contexto escolar quando temos que trabalhar com várias turmas e com muitos alunos por turma.

Esquecendo um pouco as teorias da administração e passando rapidamente para a pedagogia do arroz-com-feijão, convenhamos, alunos adoram uma boa diversão! Esse foi o mote para as aulas iniciais sobre eletricidade. Brincamos com canundinhos!

Com um Kit Básico (ainda vou escrever um artigo sobre o "Kit básico do professor pobre da escola pública"!) contendo canudinhos plásticos de refrigerante e um rolo de toalhas de papel é possível explicar desde as orígens da eletriciade (âmbar, gregos.. lembra-se?) até conceitos complexos, como a dependência da força elétrica com o inverso do quadrado da distância entre as cargas, os campos elétricos e o princípio da indução eletrostática. Ufa! Um viva aos canudinhos!

Com um pequeno investimento no valor de uma hora-aula (sim, temos que tirar dinheirinho do bolso para trabalhar, mas já estamos acostumados... deixa prá lá, os políticos vão bem, obrigado) pode-se adquirir esse kit básico. Mas cuidado! É preciso escolher bem os canudinhos (eles têm que ser finos para funcionarem bem) e comprar um "pacotão", pois a intenção dessas aulas não é demonstrar alguns fenômenos elétricos e sim fazer com que o aluno vivencie esses fenômenos e, literalmente, sinta na pele o poder da força elétrica; razão pela qual cada aluno deve receber dois canudinhos e uma folha de papel toalha.

O procedimento é simples: atrita-se um canudinho com o papel toalha e pronto! (Ah, que pena, eu não vou poder dar uma oficina de uso de canudinhos agora). O canudinho eletrizado nos permitirá demonstrar uma infinidade de fenômenos elétricos e servirá de base para várias retomadas teóricas quando formos tratar dos diversos temas do currículo ao longo do ano. Algo realmente simples e muito poderoso.

O resultado é sempre o mesmo: alunos felizes se divertindo com os canudinhos, grudando-os nas paredes, puxando os cabelos dos colegas, fazendo várias experiências "inimagináveis" e despenjando um caminhão de perguntas do tipo: porque gruda em tudo? É como um ímã? Quanto tempo vai ficar grudado na parede? E por ai vai...

Isso é mais ou menos o sonho de todo teórico da pedagogia, não é? Quem não quer ter alunos envolvidos, fazendo experimentos por conta própria, elaborando perguntas, tentando explicações, etc.? 

Evidentemente eu gostaria muito de dispor também de um gerador de Van der Graff, mas se já tenho que abrir mão de 12,5% do meu salário (referente às aulas em que a atividade se dá) só para poder comprar canudinhos baratos e papel toalha vagabundo, imagine o rombo orçamentário que eu teria para adquirir um gerador desses? E nem pense em fazer um você mesmo porque isso demanda um tempão e nem sempre funciona lá muito bem quando é "feito em casa".

O fato é que os terceiros anos ficaram felizes e minha programação também, pois agora posso passar rapidamente pelos processos de eletrização, indo até o conceito de campo elétrico, tendo como parâmetro a própria experiência vivenciada pelos alunos.

Já o primeiro ano teve aulas mais teóricas, mas ganhou um filminho curto projetado com o datashow entremeio mapas conceituais. Eles não sabem ainda, mas logo logo vão ter uma sessão de desenho animado com o Papa-Léguas. :)

Enfim, é preciso fazer alguma mágica para ensinar alguma coisa para os alunos no tempo miseravelmente curto de que dispomos (Fala sério! Com duas aulas de física semanais + burocracia estúpida para preencher + feriados emendados pelo patrão + tempo de dedicação a problemas do aluno que não dizem respeito à disciplina + etc. + etc. + etc... Quem consegue tempo, eu disse TEMPO, para oferecer um pouquinho de conhecimento a mais para os coitados dos alunos? Tem professor que até fica nervoso quando o aluno faz perguntas porque ele, professor, sabe que não tem tempo e não sabe que o pouco tempo que tem é para justamente atender ao aluno e não apenas a um currículo falsificado). Deixa pra lá...

Semana que vem tem mais. Agora os terceiros anos vão ter que "aprender a usar o livro didático" (sim, temos que ensinar isso também) e terão algumas explicações teóricas baseadas na vivência da atividade que fizeram sobre os processos de eletrização, além de adquirirem a terminologia necessária para o resto das aulas. Talvez sobre tempo para dar um pulinho no nosso laboratório improvisado para conhecerem o multímetro. Quem sabe...

Já o primeiro ano vai passar por uma tortura horrível! Os pequeninos verão que na física é preciso fazer contas de adição, subtração, multiplicação e da temida "divisão que dá número quebrado" (sic sic sic - tô fora dos números quebrados!).

De resto a escolinha caminha bem. Alunos cada ano mais envolvidos e "pacíficos". Claro, tem sempre uns mais animadinhos, mas no funbdo são eles que tornam a vida mais interessante.

Um comentário:

  1. Espero q vc mantenha o blog, pois me divirto muito (infelizmente) com seus relatos, pq eles servem para qq escola pública. Quanto aos HTPCs...eu simplesmente detesto, pois são inúteis em todos os aspectos. Um abraço

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