terça-feira, 23 de março de 2010

A greve e a escola paulista: uma redundância

Este é um comentário que deve gerar prós e contras (coisa rara nos meus blogs - excessivamente pasteurizados), mas eu não poderia deixar passar em branco esse momento histórico. Falo da greve do sindicato, da greve da escola e da greve do governo paulista.


A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) decretou greve em 08/03. Uma greve sobre a qual ninguém me consultou antes (e nem depois). Vai ver deve ser porque para o sindicato eu não tenho mesmo nenhuma importância como professor, ou porque deva existir muitos professores mais competentes no sidicado para decidirem por mim o meu destino sem prévia consulta. Aliás, também é isso que todos os governos fazem, não é? Depois de eleitos eles decidem os nossos destinos porque se dizem possuidores da "legitimação das urnas", tanto quanto os sindicalistas se dizem possuidores também de tais poderes. De qualquer maneira, não fui consultado.

Greve na Educação nunca surtiu muito resultado, nem mesmo nos tempos em que o sindicato era realmente representativo e tinha respaldo. Tanto isso é verdade que temos um governo que está em greve há quinze anos (esse é o tempo que os tucanos estão recebendo salários sem trabalhar, segundo a concepção tucana da ex-secretária de educação de São Paulo, Rose Neubauer, e do secretário atual, Paulo Renato, para quem é preciso valorizar o mérito - e que mérito há em um governo que há quinze anos só tem piorado a educação paulista?) e, apesar da greve do governo, as escolas continuam funcionando (bem mal, é verdade, mas funcionam).


A grande mídia, que assinou com o governo contratos gordos no ano passado (e anteriores), se um dia fez jornalismo, esqueceu-se como se fazia. Com exceção da publicação de "notas oficiais" e de "artigos de opinião" assinados por indivíduos cuja opinião costuma vir pautada por suas relações com o governo, raramente se deu ao trabalho de fazer um jornalismo investigativo sobre a situação da educação paulista. Então ficamos entre informações do tipo "Apeoesp diz que 63% dos professores estão em greve" e "Secretário da Educação diz que apenas 1%" dos professores estão em greve. Você escolhe se quer fazer uma média aritmética ou se arrisca seu próprio palpite.

No entanto, ainda que apenas 1% dos professores estivessem em greve, e que isso representasse apenas 1% dos alunos sendo prejudicados (algo na casa dos 50.000 alunos!), será que esse seria um "prejuízo menor" que o Secretário de Educação e o Governador poderiam simplesmente desprezar?

O governo tem o descaramento de sugerir que os professores, os alunos e a sociedade estão satisfeitos com as condições com as quais sobrevivem os professores e as escolas e que, portanto, essa é uma greve apenas política. Oras, toda greve é política e se "ser político" for assim tão mal, como o senhor Governador e o senhor Secretário se definiriam? Artistas talvez? Por outro lado o sindicato diz estar defendendo os interesses da categoria, mas de qual categoria ele fala? Na pauta de reinvindicações só faltou pedir máquina de café capuccino "free", como as que se encontra nos corredores da Secretaria de Educação, e eu não duvido nada que essa greve tem data certa para acabar: 31/03/2010 - quando o Serra se descompatibilizar oficialmente e deixar de responder pelo governo de São Paulo. E eu, que não tenho capucino free e nem faço paralizações na colônica de férias da Apeoesp é que sou obrigado a levar tijolada?

Aqui, na minha escola, até semana passada me parece que tínhamos 0% de grevistas. Mas há outras onde há realmente 100% de paralisação. Porque tanta diferença? Seríamos nós, daqui da minha escola, tucanos entreguistas, alienados, descompromissados e traidores da nossa "categoria"? E na escola 100% paralisada, teríamos lá uma concentração de petistas xiitas da CUT com especialização em terrorismo em Cuba? Se deixássemos isso para a mídia decidir ou para a presidenta da Apeoesp e o Secretário de Educação, resolverem, provavelmente essas seriam as conclusões.

A verdade é que me parece que as opiniões divergem muito quando se trata de posicionamento político e, principalmente, político-partidário. Não deixamos de entrar nessa greve, até agora, por razões político-partidárias e nem porque somos alienados, mas simplesmente porque não queremos servir apenas de massa de manobra, nem para o Secretário, nem para o Sindicato. Prezamos a categoria, lutamos por nossos direitos e respeitamos os nossos alunos (que são, verdadeiramente, os únicos que merecem nosso respeito). Não acreditamos em ambos, sindicato ou governador, e toda essa "descrença" é fruto de um longo aprendizado... E pelo menos para isso a escola nos serviu nesses anos decadentes de tucanato.

Semana passada recebemos o comando de greve local, que veio com um ônibus inteiro nos visitar.  Nos ofenderam um pouco, mas estamos acostumados e sabemos relevar. Continuamos sem explicações  minimamente convincentes e com a impressão de que "não temos reais motivos para aderir a ESSA greve". Mas é claro que podemos mudar de opinião e, na verdade, eu mesmo adoraria ter participado de várias greves que o sindicato deixou "passar em branco" (porque será?) na época em que elas fariam todo o sentido. Há bem pouco, tendendo a quase nada, do que foi feito por esse governo que mereça algum aplauso. E menos ainda que tenha sido feito pela Apeoesp.

Nesta semana talvez entremos em greve, talvez não. A decisão é nossa, não é do sindicato e nem do governador. Mas se entrarmos não será apenas para marcar um pontinho inútil para um sidicato que só enxerga o seu próprio umbigo político, e se não entrarmos não será porque achamos que o governo Serra (e seus antecessores tucanos) tenha merecido os seus salários. Na verdade seria muito bom poder nos livrar dos dois, sindicato e tucanos, e optar por uma terceira via... Mas aí somos sempre pisoteados nas urnas das eleições governamentais e das eleições sindicais.

De qualquer forma, quinta-feira sai o "bônus" dos professores. Desconfio que teremos então um motivo a mais para essa e outras greves. :)

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