Às 5:30 da madrugada do domingo eu publiquei aqui no blog a notícia de que havia retornado às minhas aulas após um período de dois meses de afastamento. Ilustrei o artigo com a imagem de uma lápide onde se lê "Aqui jaz as férias, JC está de volta" (veja o artigo, vá!). Algumas horas mais tarde eu recebi a notícia de que um dos meus colegas, professor da minha escola, havia falecido: o professor Denilson (foto ao lado).
Como um soco no estômago, doeu, e como se fosse uma piada de mau gosto, demorei para entender. Mas depois a ficha caiu. Ele morreu mesmo. Enquanto eu anunciava a morte das minhas férias o tempo corria contra a vida de Denilson e, algumas horas depois, era a morte dele que estava sendo anunciada.
Aos quarenta e sete anos Denilson parecia um adolescente de 15 quando falava da vida. Ele queria muito viver. Sua gargalhada ecoava pela escola e pelos corredores. Ele até poderia não ser, mas certamente parecia feliz.
Na escola os alunos sabiam que tinham que respeitar os horários da aula do Denilson. Atrasados não entravam. Prazos tinham que ser cumpridos. E ele os fazia cumprir. Às vezes durão, às vezes nem tanto, ele era mesmo um coração mole que gostava muito de seus alunos embora não deixasse muito que isso transparecesse.
Denilson morreu em um domingo, véspera de feriado de finados, e não deixou para nós nenhum dia letivo suspenso, exceto o período da manhã da terça-feira, quando a escola lhe fez uma homenagem e suspendeu as aulas. Morreu longe, me parece que em Brotas, em um churrasco, e ninguém daqui foi ao seu enterro (que eu saiba). Os alunos vão falar da morte dele durante a semana toda, mas outro vai entrar com um punhado de giz e a História continuará, com outro professor de História. A vida continuará para todos nós, até o dia em que acabar e formos esquecidos também.
Dei carona ao Denilson muitas vezes, tive muitas conversas com ele, as vezes longas. Posso dizer que dentre os professores ele foi um dos que sempre esteve disponível para um bom papo, e falava sobre qualquer assunto, embora tivesse sempre uma grande preocupação com os assuntos relativos à Educação. Era sim um grande sujeito, apesar de todas as críticas que lhe fizeram em vida e as que farão agora, que está morto.
Acho que Denilson soube viver bem seus poucos quarenta e sete anos. Não deixa filhos, nem livros e, ao que se sabe, não plantou árvores. Mas deixa-nos outra vez uma oportunidade de reflexão sobre o quanto insignificantes somos diante da pretensão que temos de querermos ter alguma importância além da própria existência.
Fiquei triste. Mas me lembrarei das gargalhadas que demos juntos, das contas que não pagamos e de como lembrávamos mais dele em vida do que nos lembraremos agora, na morte.
Tchau Denilson. Foi um prazer ter conhecido e convivido com você o pouco que convivemos.
Caro Prof. José Carlos
ResponderExcluirDeixo aqui registrado o meu pesar pela morte do Prof. Denilson... A morte de alguém é como uma biblioteca que se vai. Ainda mais sendo um professor.
Abraços, :-(
Olá, JC!
ResponderExcluirNão poderia deixar de registrar meus pêsames pela morte de um grande professor.
Tive aula com ele durante um semestre, mas, foi o suficiente para admirá-lo em suas muitas qualidades.
O Denilson e eu tínhamos algo em comum... uma grande paixão pelo Neusa Nazatto. Certa vez, ele me disse que o Neusa era uma das melhores escolas, dentre as muitas escolas que ele já havia lecionado.E que jamais se esqueceria dessa escola.
Concordo com ele, o Neusa é uma grande escola, com pessoas maravilhosas. Qualquer um de nós que já passamos por lá, guardamos recordações maravilhosas. E mesmo "distante" fico feliz quando ouço elogios ao Neusa.
*** Saudades de todos!!!
Um grande beijo, de sua eterna aluninha...
Ana Carolina