domingo, 22 de novembro de 2009

A escola que acordou inseto

Semana de Saresp em pleno novembro é palco para todo tipo de festa. Mas a festa aqui já começou bem antes, em plena sexta-feira, 13/11, quando fui convidado a "subir uma aula" para um terceiro ano do noturno porque a classe não tinha professor e eu tinha as duas últimas aulas lá. Subi, e na hora do intervalo a classe foi dispensada pela direção porque seria a única sala a continuar tendo aula após o intervalo (onde já se viu apenas uma classe ser penalizada com aula!).

Na terça-feira "fiquei cumprindo horário à noite" porque os terceiros anos estavam fazendo Saresp. Já na quarta-feira, 18/11, fui solicitado para "dar aula em uma sala onde não leciono" no período da manhã por falta de professor e de eventual. Na quinta fiquei novamente duas aulas de bobeira no período da manhã, enquanto os terceiros faziam a prova do Saresp.

Aliás, "fazer prova do Saresp" é uma metonímia tresloucada para "vamu imbora pessoar!". Nenhum aluno leva essa p... prova a sério. Prova que, segundo os próprios alunos, "não serve para nada" e "só tem coisa que a gente nunca viu". De fato, o Saresp sempre foi, e esse ano também, uma prova conteudista, descontextualizada e que avalia conteúdos curriculares independentemente das realidades escolares locais; o que, traduzido para o bom português, significa: "prova que avalia o que o aluno deveria saber se ele estivesse em uma escola de verdade". Razão pela qual os resultados que ela estampa são tão ruins quanto parecem.

Na sexta de manhã participei de altas negociações com os colegas do corpo docente para que eles pudessem completar os seus projetos, que exigia que os alunos participassem assistindo a uma peça de teatro, ou encenando-a, e para que eu pudesse "dar aula normalmente" para um segundo ano que quase não teve aula comigo desde que retornei de minha licença há um mês. E para fechar a sexta-feira, o terceiro ano do noturno que foi dispensado de uma aula minha na sexta-feira da semana passada (para não ser a única classe com aula na escola) resolveu dar o troco e faltar coletivamente, fazendo companhia para o resto da escola. Isso sim que é "equidade em seu maior e melhor estilo pedagógico".

Por fim, no sábado, a "reposição" foi marcada na igreja católica do bairro. É isso mesmo, vão à missa repor aulas. Infelizmente vão colocar "ausência total" na frente do meu nome no livro-ponto porque estou me recusando a participar dessa farsa chamada "reposição" desde que foi proposta, mas se eu não quisesse participar de uma missa católica (essa história de escola laica é só mais uma grande mentira) teria como alternativa ficar fazendo reparos na escola (dia de pintar o portão!). E porque não... Afinal, sou só um professor mesmo!

É engraçado como lendo tudo isso que eu relato aqui, eu mesmo me sinto como Josef K., aquele sujeito protagonista de "A Metamorfose", de Kafka. Imagino então o que os meus oito leitores não devem pensar. A "escola pública" (pelo menos "essa onde estou") é tão surreal que o mais psicodélico porra-louca dos idos de sessenta se sentiria "mó careta" se vivenciasse o que descrevo.

Curioso mesmo é ler os papers dos especialistas que tentam desvendar os mistérios da barata-pedagógica brasileira que nem Kafka seria capaz de imaginar. Também é curioso saber que esses especialistas recebem salários para isso há décadas, enquanto a escola só piora e barateia. Seriam eles insetos também?

Um comentário:

  1. reposição? uma enganação, claro! O SARESP? outra enganação. Compensação de ausências? maracutaia pura! Meu Deus, onde vamos parar? Quando pensamos q eles não têm mais nada de ruim pra fazer, que chegamos no fundo do poço, eles nos msotram q estamos enganados, sempre tem um jeito de piorar a educação...e SP é especialista nisso.

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