terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Secretaria volta atrás e anula os efeitos da prova de classificação dos professores temporários - Dona Maricota agradece!

Em nota publicada ontem no site da SEE, a Secretaria informa que a prova classificatória que os professores temporários fizeram em dezembro não terá nenhum efeito sobre a atribuição de aulas que acontece a partir de hoje nas DEs de todo o Estado de São Paulo. Em outras palavras, foi só perda de tempo para quem fez a prova e uma imensa vitória para Dona Maricota.

Embora eu seja um professor efetivo, esse assunto muito me interessa. Segundo pesquisa do Inep digulgada no final do ano passado no Portal Aprendiz, aproximadamente 90% dos professores de Física da rede não tem formação adequada, ou seja, são formados em outras áreas. Portanto, temos, no máximo, 10% da rede com professores efetivos de Físca enquanto os outros 90% são temporários. Aparentemente isso devia significar que todos os 6.000 professores formados em Física estão lecionando e que, ainda assim, faltam 54.000 para completar as vagas existentes. Mas não é bem assim...

A questão é que enquanto professores temporários, há muito tempo na rede e sem formação específica, assumem aulas de Física para completar sua carga horária, os novos professores de Física que estão saindo agora da univesidade, ou que saíram à pouco tempo, acabam ficando sem aulas. Temos assim um paradoxo absolutamente inconcebível: professores de Física formados e habilitados não podem assumir aulas de física porque professores sem formação específica, mas com muito tempo de serviço na rede, assumem essas aulas. Em uma comparação meio forçada, isso é como você ser operado pela cozinheira do hospital porque ela trabalha lá na cozinha há 20 anos enquanto que o cirurgião cardíaco é récem saído da universidade. Resultado: risco de morte! E é por isso também que a escola vai morrendo lentamente.

Me lembro bem que quando resolvi assumir uma cadeira de Física na rede, prestei concurso e fui um dos primeiros classificados. No entanto a atribuição de aulas ocorre no início do ano e eu só poderia assumir meu cargo no meio do ano. Resultado: no início do ano eu só pude assumir três salas de EJA como professor substituto de uma professora que não era formada em Física e que assumiu as aulas e as deixou imediatamente por meio de uma licença médica. Essas aulas (três salas apenas) foram as que sobraram em toda a DE (que possui uma centena de escolas) depois que todos os professores temporários melhor pontuados por tempo de serviço assumiram todas as aulas da DE. Embora eu tivesse uma classificação que me permitisse escolher uma carga horária completa em qualquer escola do Estado de São Paulo, onde eu bem quisesse, o sistema me colocava como um dos últimos na lista de classificação baseada em tempo de serviço.

Meu próprio exemplo mostra como é absurdo o critério de classificação para a atribuição de aulas baseado apenas no tempo de serviço e que desconsidera até mesmo a formação específica do professor. Um professor de Física recém saído da Usp, por exemplo, e que teoricamente está com "tudo fresquinho na cabeça", não pode lecionar Física na rede estadual porque algum professor formado em pedagogia-por-correspondência há 20 anos atrás ficará com suas aulas.

Eu entendo que os professores com vinte ou trinta anos de carreira tenham direito a muitos "pontos", estejam em faixas salariais maiores e tenham compensações na carreira pelo tempo de serviço prestado, mas não entendo como isso possa dar a eles o direito de impedir que outros professores, em início de carreira, habilitados e capacitados, possam trabalhar.

Independentemente das razões pela qual a Apeoesp entrou com liminar cancelando o concurso para temporários, e independentemente dos erros cometidos pela Secretaria na realização desse concurso, o fato é que perdem com isso os alunos e a Educação. Teremos mais um ano em que centenas de professores de Física serão impedidos de lecionarem Física para que professores de outras disciplinas, mas com muito tempo de carreira, assumam essas aulas e completem seus salários.

Depois, quando os resultados apresentados por nossos alunos nas avaliações internacionais mostrarem de novo que por aqui pouco se sabe sobre ciência (química está na mesma situação que Física, por exemplo), haverá uma corja de idiotas bradando nos jornais que os professores de Física não estão ensinando Física, mas poucos vão se dar conta que muitos professores de Física estão sendo impedidos de ensinar Física para que a Dona Maricota se aposente com carga horária completa.

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